A
palavra cegueira está formatada na maioria das mentes humanas como algo ligado
ao corpo biológico ou físico, como alguns preferem. Poderia ser descrita como a
perda ou redução grave, de um dos sentidos mais importantes: a visão. É um
tanto quanto óbvio afirmar que é através dela que mais nos conectamos com o
mundo, mas, ao mesmo tempo, é importante ressaltar essa informação. Até mesmo
para que ela possa receber a atenção necessária.
Também
não podemos entendê-la como uma imperfeição e muito menos como uma punição: o
Engenheiro lá de cima não permitiria isso. Se mudarmos o foco, é possível
entende-la como uma oportunidade de crescimento, resiliência e superação.
Galileu Galilei, Louis Braille, Andrea Bocelli confirmam isso. Você também conhece alguém com deficiência
visual, menos famoso, mas que também é um exemplo de vida. Não é verdade?
O
meu intuito, entretanto, não é falar sobre a cegueira biológica. Este artigo é sobre
a cegueira relacional. Isso mesmo: cegueira relacional. Desconhece esse termo?
Normal. Achou estranho ou impossível que ocorra? Se isso acontece, em minha
opinião, já pode ser um forte indício deste tipo de cegueira.
Sem
recorrer a muitos detalhes ou a preceitos científicos, a cegueira relacional poderia
ser definida como uma incapacidade de tomar contato com algo que vai além da
visão e/ou da compreensão cotidiana, causada por um encantamento, por exemplo.
E não pensem que esta situação é difícil de ocorrer: acontece rotineiramente.
Quantas
vezes já ouvimos falar de profissionais que estão desenvolvendo excelentes
trabalhos em determinada empresa e então, são convidados para atuarem em outra instituição
(muitas vezes, até concorrentes) e rapidamente fazem o seu desligamento e se
decepcionam no novo emprego?
Esse
é um clássico exemplo da tal cegueira, pois, possivelmente os olhos que
vislumbravam os benefícios estavam bem abertos, mas, os que deviam ter um olhar
mais abrangente e que considerasse também os riscos, estavam impossibilitados
de enxergar.
Outro
dia tomei conhecimento de uma determinada empresa, na qual, um seu diretor
contratou um gerente de vendas, apenas por sua formação acadêmica. O candidato se perdia na quantidade de
certificados que apresentou. Neste caso o encantamento foram os documentos que
cegaram o tal diretor. O resultado foi drástico.
E
os exemplos não param por ai.
Quando
um candidato participa de um processo seletivo, gostaria de receber um retorno,
mesmo que apenas agradecendo a sua participação no processo. Mas, a grande maioria
nunca irá receber nenhum retorno.
A
cegueira relacional, neste caso, está no responsável pela seleção que pode
criar uma série de alegações e não dar retorno. Temos o hábito de mudar a nossa
maneira de agir apenas após vivermos situação semelhante. Será que o
selecionador vai precisar passar por uma seleção, ficar ansioso e não receber
resposta para poder mudar? Convenhamos: enviar uma mensagem pré-formatada não
custa tanto tempo ou dinheiro que não possa ser realizado. Uma possibilidade
para essa cegueira ocorra é que o selecionador crie um modelo mental onde ele
fortaleça algumas ideias que, de alguma forma, desconsidere o candidato, quando
deveria acontecer o contrário.
Outra
situação onde a cegueira relacional está se solidificando cada vez mais, é a
que se refere ao contato do profissional com o seu próprio corpo. Muitas vezes
o corpo está clamando por atenção, sinalizando de diversas maneiras, mas, criamos
alguns impedimentos para não ver as mensagens que estão sendo enviadas.
Neste
caso, focamos apenas em um aspecto: o trabalho em si. E esquecemos que, para
trabalharmos precisamos estar bem em todos os aspectos: físico, mental,
intelectual, espiritual, etc. Logo, precisamos estar de olhos bem abertos para
todos eles.
É
importante deixar registrado que o intuito deste artigo não é desmotivar os
profissionais para que evitem outras oportunidades de trabalho ou que os
lideres desconsiderem a formação acadêmica dos candidatos, mas que eles reduzam
a cegueira relacional ampliando a sua visão, vendo o centro e também a
periferia da situação.
Tempo
atrás havia um comercial de tv que afirmava: “não que um cego não possa ser
feliz, mas é bem melhor ser feliz vendo tudo”. Então, motive-se. Veja bem, veja
mais e seja feliz.